sexta-feira, 15 de junho de 2007

Decisão da diretoria mantém multa aplicada a Eletrobrás

A Aneel manteve a multa de R$ 11,9 milhões aplicada à Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobrás) em conseqüência da má gestão dos recursos arrecadados pela Conta de Consumo de Combustíveis(CCC). A diretoria negou esta semana recurso apresentado pela empresa. A deliberação da Aneel esgota a possibilidade de recurso na esfera administrativa.

A estatal, gestora da Conta, foi punida após fiscalização da Agência constatar a compra de combustíveis, coberta com recursos da CCC, a preços acima das médias do mercado nacional, o que acarretou aumento do custo de geração de energia nos Sistemas Isolados.

Na reunião pública, a diretoria decidiu também reiterar a sugestão, encaminhada por ofício ao Ministério de Minas e Energia em fevereiro deste ano, de revisar a regulamentação em vigor com o objetivo de atribuir a competência da administração e gerência dos recursos da CCC a outro órgão. No documento, a diretoria alerta para a possível existência de conflito de interesse, uma vez que a Eletrobrás, além de gestora da Conta é controladora de diversas concessionárias. Tal sugestão visa a contribuir para a melhoria e o aperfeiçoamento contínuo da gestão da CCC e para a redução dos valores da conta, com impacto nas tarifas de energia de todo o país.

A CCC é um encargo pago por todos os consumidores para subsidiar a compra de combustíveis fósseis (óleo diesel, por exemplo) para geração térmica nos sistemas isolados, principalmente na região Norte. A Agência estabeleceu o valor de R$ 2,8 bilhões para a quota da CCC para 2007, montante 36,6% inferior em relação a 2006.

Fonte: Boletim Energia da Aneel

quinta-feira, 14 de junho de 2007

EPE habilita 87 empreendimentos para Leilão de Fontes Alternativas

A Empresa de Pesquisa Energética – EPE encerrou o processo de habilitação técnica de empreendimentos para o Leilão de Energia de Fontes Alternativas, que ocorrerá na próxima segunda-feira (18/06). Foi habilitado tecnicamente para o processo um conjunto de 87 usinas, com potência instalada total de 2.803 MW. A licitação – a primeira deste tipo que é realizada no país – será destinada a comercializar energia elétrica proveniente de três tipos de fontes: hídrica a partir de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), térmica à biomassa e eólica.

Dos empreendimentos habilitados tecnicamente pela EPE, 54 usinas são de PCHs, que juntas representam 844 MW de capacidade de geração. As usinas termelétricas movidas a bagaço de cana-de-açúcar e rejeitos de criadouros avícolas totalizam 24 habilitações, com potência de 1.019 MW. Nove usinas movidas pela força dos ventos, com potência de 939 MW, obtiveram habilitação.

O Leilão de Energia de Fontes Alternativas é o primeiro deste tipo promovido no país, e será realizado através da rede mundial de computadores. A energia negociada no processo será destinada ao atendimento do mercado das empresas distribuidoras de energia elétricas, que participarão como compradoras. Essas empresas firmarão Contratos de Comercialização de Energia em Ambiente Regulado (CCEAR) com os empreendedores que obtiverem êxito na negociação. Os CCEAR, válidos a partir de 2010, terão vigência de 30 anos para as PCHs e de 15 anos para as térmicas à biomassa e centrais eólicas.

Fonte: EPE

terça-feira, 5 de junho de 2007

Investimento nuclear é questão estratégica

Especialistas ouvidos pelo G1 afirmam que energia brasileira pode vir de outras fontes. Segundo eles, governo gerencia mal o setor energético.

A dificuldade em obter licenças ambientais para novas hidrelétricas e o risco de um novo apagão daqui a cerca de três anos fez o governo federal anunciar neste mês a retomada da construção da usina nuclear de Angra 3. Anteriormente, o presidente Lula já havia manifestado que não hesitaria em adotar essa forma de energia caso continuasse a ter problemas com hidrelétricas. O G1 ouviu especialistas no assunto que defendiam pontos de vista diferentes. Em comum, a visão de que a decisão de investir no setor é baseada mais por motivos estratégicos e tecnológicos do que por uma demanda energética que não possa ser cumprida por outras fontes.

A energia nuclear era, no passado, considerada uma forma de geração de eletricidade cara demais e suja demais. Mas com a crescente alta nos preços do petróleo e do gás natural, a questão do preço passou a ser menos relevante. O lixo nuclear também passou a ser encarado de outra forma, com a revisão das tecnologias de reprocessamento de resíduos, e com a disseminação da visão de que não há nenhuma forma de gerar energia 100% limpa.

Para completar o “renascimento” da energia nuclear, há a questão do efeito estufa. Usinas nucleares não emitem dióxido de carbono e, portanto, não contribuem para o aquecimento global. “Todos esses pontos têm reposicionado a opinião mesmo de ambientalistas que antes eram visceralmente contra a energia nuclear. Estamos passando por um momento de revisão”, afirmou ao G1 Aquilino Senra Martinez, professor do Programa de Energia Nuclear da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O governo defende que a energia nuclear pode suprir a demanda energética que o Brasil necessita para evitar a falta de eletricidade daqui a cerca de três anos. Os especialistas, no entanto, discordam dessa necessidade.

“Para países que não tem recursos naturais, como França e Japão, a energia nuclear pode ser considerada. O Brasil tem outras opções”, afirma o físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP (Universidade de São Paulo). “O Brasil pode produzir energia equivalente à de dez reatores nucleares se terminar uma série de hidrelétricas que estão em diversos estágios de construção. Não entendo porque isso não anda. Se o governo federal está preocupado com a questão, deveria acelerar a finalização dessas obras, que já têm licença ambiental”, critica Goldemberg.

O coordenador de Planejamento Energético da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, concorda. “Não acho que a energia nuclear seja uma boa alternativa. É um erro histórico”, afirma. “O próprio Painel Intergovernamental para Mudança Climática da ONU falou em seu último relatório que mesmo com o aumento da preocupação com o efeito estufa, a produção de energia nuclear só deve aumentar de 2% a 3% no mundo até 2030. Isso é muito pouco, não é nada. Porque não vale a pena investir nesse tipo de tecnologia”, diz Pinguelli, que também critica o governo. “O Brasil está gerenciando muito mal o setor energético.”

Para o professor Martinez, no entanto, o Brasil não tem escolha a não ser investir na geração nuclear. “Precisamos ter uma matriz energética diversificada. Não podemos colocar todos os nossos ovos no cesto das hidrelétricas”, defende. O próprio Martinez, entretanto, afirma que há duas outras questões muito fortes envolvidas no projeto nuclear brasileiro.


Estratégia

Em primeiro lugar, se o Brasil não investir em tecnologia nuclear ele corre o risco de perder importantes conhecimentos técnicos sobre o assunto. “Temos a experiência acumulada nesse setor por causa da construção de Angra 1 e Angra 2. Se nada for feito nos próximos anos, essa experiência se perde. E depois para reconstruí-la tem um custo alto”, diz Martinez. “Precisamos preservar essas equipes técnicas de projeto de engenharia de usinas nucleares.”

Em segundo lugar, há uma séria questão de diplomacia internacional envolvida. O Brasil brigou muito nos organismos internacionais para ter direto à tecnologia de enriquecimento de urânio -– que só é dominada por nove países. Signatário do tratado de não-proliferação de armas nucleares e proibido pela Constituição de ter armamentos do tipo, o país defendeu arduamente que queria a tecnologia para uso nos reatores de Angra 1, 2 e 3. “Se não temos nem Angra 3, nem Angra 1 e Angra 2, não temos porque ter nada disso”, afirma Aquilino Martinez.

Seu colega de Coppe, Pinguelli Rosa concorda que a posição brasileira deve ser uma questão mais estratégica do que uma preocupação ambiental e defende o posicionamento do Ministério do Meio Ambiente com relação às hidrelétricas. “Defendo o rigor da ministra Marina Silva e do secretário Capobianco e não acredito que essa história tenha algo a ver com meio ambiente”, diz ele.


Gerenciamento da crise

Ex-presidente da Eletrobrás, Pinguelli faz duras críticas à posição do governo com relação às políticas energéticas. “Reina uma ilusão no Brasil de que é melhor a Eletrobrás, por ser estatal, não fazer nada para que a iniciativa privada resolva os problemas. Mas isso não está dando certo. A iniciativa privada não está dando conta. Quem faz mais pelo petróleo no Brasil? A Petrobrás”, afirma o professor.

Para José Goldemberg, se o governo simplesmente administrar melhor a situação, a demanda energética será suprida. “Hidrelétricas no Rio Madeira não são a única solução. Estão colocando a questão como se fosse uma escolha de Sofia, ou você tem energia ou tem o Madeira, e não é verdade. Mesmo que essas obras ali fossem iniciadas amanhã, as usinas só estariam prontas daqui seis ou sete anos. Isso não vai resolver nosso problema de falta de energia daqui a três anos”, afirma.

O físico da USP também afirma que outras opções podem dar conta da demanda, se forem bem administradas. “Aqui em São Paulo a produção de cana-de-açúcar está expandindo muito, por causa do programa do etanol. E à medida que aumenta a produção de cana, os donos das usinas estão se dando conta que é possível produzir energia elétrica com o bagaço”, conta ele. “Aqui no estado de São Paulo quase 2 milhões de quilowatts de eletricidade já estão sendo produzidos dessa forma. E o potencial que existe é de 5 milhões de quiilowatts”, sugere.


Termelétricas

Em uma coisa, Martinez, Goldemberg e Pinguelli concordam plenamente: a opção de usar termelétricas a carvão, levantada por alguns críticos à postura do Ministério do Meio Ambiente sobre as hidrelétricas, não pode sequer ser levada a sério. Em primeiro lugar, porque esse tipo de usina é altamente poluente, e aumenta os efeitos do aquecimento global. Em segundo, porque não é inteligente investir em carvão no momento.

“Não acredito que um dia o petróleo vá acabar. Ele simplesmente vai ficar tão caro que não vai poder ser usado mais. O mesmo vai acontecer com o carvão. Não vale a pena investir nisso”, diz Martinez.

Fonte: G1

terça-feira, 29 de maio de 2007

Dia Mundial da Energia

Hoje se comemora o dia mundial da energia! Surpreendentemente, no tempo das "verdades inconvenientes" acerca do aquecimento global (que parece ter esquecido de Portugal), a data passa despercebida pelos meios de comunicação em todo o mundo.

Apesar dos elevados preços do petróleo e do gás, o ’Energy Outlook 2007’ refere que a procura mundial de energia vai continuar a aumentar. As previsões apontam que oconsumo mundial de energia vai crescer 57% entre 2004 a 2030, sobretudo através da procura dos países fora da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE).

O dia mundial da energia passaria por mim também, não fosse o único leitor desse blog ter-me lembrado. Obrigado António Santos pela lembrança! É inspirado nesse engenheiro/surfista do Dique de Cabedelo que posto hoje algumas reflexões sobre a energia das ondas.

A geração de energia elétrica a partir das ondas do mar ainda não se encontra num estágio competitivo economicamente. Existem vários tipos de sistemas de aproveitamento, em diversos níveis de desenvolvimento, o que eleva em muito as incertezas acerca de qual delas será a mais vantajosa técnica e economicamente. No entanto, dada a evolução do setor energético europeu e a popularização das fontes renováveis de energia, têm-se observado um crescente interesse nesse tipo de aproveitamento energético, e Portugal tenta tomar a ponta nesse campo com o projeto da Ilha do Pico nos Açores.

O projeto na ilha do Pico é da tecnologia Coluna de Água Oscilante e funciona como representado na figura abaixo:


Fonte: Associação Bandeira Azul da Europa


Abaixo encontra-se um quadro resumo das várias tecnologias de energia das ondas com as respectivas empresas promotoras:


Estima-se que o potencial energético no Brasil cresça de 15 a 33kW/m ao longo da costa desde São Mateus no Espírito Santo até Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Isso significa que em cada metro de frente de onda passa a potência de 33kW ou ainda em 1km de frente de onda tem-se 33MW. Já em Portugal, o potencial energético cresce de aproximadamente 33 até 46kW/m ao longo da costa do sul para o norte, um valor bastante apreciável!

Para saber mais sobre a energia das ondas visite a página do Núcleo de Estudantes de Oceanografia da Universidade dos Açores.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Estado apóia instalação da primeira usina eólica da PB


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Serão instalados 45 aerogeradores de energia
Governo do Estado se empenha por instalação da primeira usina eólica da Paraíba.

O Governo do Estado oferecerá incentivos fiscais sobre o ICMS e apoio, através da Sudema, do DER e do Interpa a empresários alemães e austríacos que estão investindo na instalação da Usina Eólica Vale dos Ventos, nos municípios litorâneos de Mataraca e Rio Tinto. O empreendimento é da Pacific Hydro Internacional, empresa Australiana especializada em energia renovável obtida de água e ventos.

A Vale dos Ventos Central Geradora S/A, terá potência de 45 Mega Watts. Serão instalados 45 aerogeradores de energia. A Pacific Hydro Internacional, chegou ao mercado brasileiro com a aquisição em 100% da SÉS – Soluções de Energias Sustentáveis Ltda, com sede em Natal-RN.

Os empresários estão firmando parceria com o Governo do Estado, no sentido de viabilizar o empreendimento que além de energia eólica, limpa, sem agredir o meio ambiente, vai gerar empregos.

Na tarde desta terça-feira (15), o secretário chefe da Casa Civil, Carlos Dunga, manteve reunião com diretor da Pacific Hydro, Ralf Kynast, e o gerente de Desenvolvimento, Fabiano Nagashima. O Instituto de Terras da Paraíba fará avaliação técnica para efeito de indenização das propriedades atingidas pela Usina de Energia Eólica Vale dos Ventos e sua respectiva linha de transmissão localizada em Mataraca e Rio Tinto.

O Governo do Estado solicitará ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transportes (Dnit) a concessão de faixa de utilização na BR-101, quilômetros 27 e 33. O Departamento de Estradas e Rodagens da Paraíba, por sua vez, vai procurar fazer o mesmo em relação à PB-065, estrada Millenium. Nesses dois trechos a Linha de Transmissão (LT) seguirá às margens das respectivas rodovias.

A Pacific Hydro também pleiteia junto ao Governo do Estado o empenho da Sudema na análise do projeto para licenciamento prévio e de instalação da LT e emissão da licença de desmatamento para a implantação da UEE e LT. Ao IBAMA está sendo solicitado pelo Grupo Pacific Hydro a análise do impacto em área de amortecimento na reserva dos Guaíras bem como chegada à subestação Rio Tinto, que está dentro de uma APA – Área de Preservação Ambiental.

Fonte: www.paraiba.gov.br

terça-feira, 22 de maio de 2007

Assim fica difícil...

Em 2003 o novo governo brasileiro lançou o programa "Luz Para Todos" tendo como objetivo antecipar para 2008 as metas (estipuladas pela ANEEL para 2015) da universalização do acesso aos serviços de eletricidade. O programa é financiado com recursos provenientes da Conta de desenvolvimento energético - CDE e da Reserva Global de Reversão - RGR que são encargos pagos por empresas do setor elétrico e imbutidos na tarifa de eletricidade paga pelos consumidores.

A CDE é um encargo setorial, estabelecido em lei, e pago pelas empresas de distribuição, cujo valor anual é fixado pela ANEEL com a finalidade de prover recursos para o desenvolvimento energético dos estados, para viabilizar a competitividade da energia produzida a partir de fontes eólicas (vento), pequenas usinas hidrelétricas, biomassa, gás natural e carvão mineral nas áreas atendidas pelos sistemas elétricos interligados, e levar o serviço de energia elétrica a todos os consumidores do território nacional (universalização).

A RGR é um encargo pago mensalmente pelas empresas de energia elétrica, com a finalidade de prover recursos para reversão e/ou encampação, dos serviços públicos de energia elétrica. Tem, também, destinação legal para financiar a expansão e melhoria desses serviços, bem como financiar fontes alternativas de energia elétrica para estudos de inventário e viabilidade de aproveitamentos de novos potenciais hidráulicos, e para desenvolver e implantar programas e projetos destinados ao combate ao desperdício e uso eficiente da energia elétrica.

Segundo cálculos ilustrativos da “Agenda Elétrica Sustentável 2020” da ONG WWF, com o dinheiro que foi parar no Ministério de Minas e Energia (ver notícia abaixo), daria para efetuar a troca de 100 geladeiras antigas por outra mais eficiente, o que resultaria em uma economia de 21 433MWh por ano. E isto "apenas" com R$ 100 mil! Dinheiro que coube dentro de um envelope pardo.

O alto custo de produção de energia através de fontes alternativas é o maior impedimento para a proliferação deste tipo de tecnologias no Brasil. Este impedimento só pode ser ultrapassado através de instrumentos de política que apoiem o uso destas fontes. É triste ver onde está indo parar este incentivo no Brasil.

Mário Araújo Neto


"Tenho biografia a zelar", diz Rondeau após reunião de meia hora com Lula

O presidente Lula teve ontem de manhã em Assunção uma reunião a sós, de cerca de 30 minutos, com Silas Rondeau. O ministro deixou o encontro muito abalado, segundo apurou a Folha. Anteontem à noite, Lula assistiu, no Paraguai, à reportagem do "Fantástico", da TV Globo, com as gravações que mostram uma integrante do esquema desbaratado pela Operação Navalha levando uma mala que conteria R$ 100 mil ao ministério comandado por Rondeau. O dinheiro seria propina para que a construtora Gautama fosse escolhida para efetuar obras do programa "Luz Para Todos", abrigado no Ministério de Minas e Energia.
No palácio do governo paraguaio, Lula se negou a falar sobre o caso de Rondeau, peça-chave da visita -ele assinou um acordo de incentivo à produção de biococombustíveis no Paraguai, antes de seguir para a cerimônia de inauguração de duas novas turbinas de Itaipu.
A entrevista foi prematuramente interrompida. Só a Folha e dois jornalistas paraguaios puderam questionar Lula. A coletiva foi encerrada antes de uma quarta pergunta, que seria feita pela TV Record. Questionado sobre Rondeau, Lula afirmou: "Essa é uma das coisas que aprendi com o [ex-] presidente Chirac: a gente não discute problemas internos de um país quando está em outro.
Daqui a três ou quatro horas estarei no lado brasileiro de Itaipu, e quem sabe aí vocês poderiam fazer quantas perguntas quisessem sobre a Operação Navalha". Em Foz do Iguaçu, porém, ele não deu entrevistas.
Rondeau falou com a imprensa nos dois lugares. Em Assunção, afirmou desconhecer acusações contra ele. "Isso não existe. Voltarei ao Brasil e tratarei disso lá." Disse ser vítima vítima de um "prejulgamento", que qualificou de "coisa horrível". Deixou em aberto a possibilidade de deixar o ministério. "Acho isso um processo extremamente nocivo. Cabe realmente a todo ritual da Justiça confirmar e esclarecer, mas não posso me deixar envolver.
Tenho uma história e uma biografia a zelar, que estão acima do cargo, de tudo."
Em Foz do Iguaçu, Rondeau disse que marcou uma audiência com Lula para hoje. "Determinei uma auditoria especial e estamos abrindo um processo administrativo disciplinar. Se houve incúria, os responsáveis serão punidos."
Responsável pela indicação do ministro, o senador José Sarney (PMDB-AP) o defendeu. "Considero as investigações de grande relevância. Mas creio na inocência do Silas, ele tem uma vida série e honesta."
Amigos do ministro, porém, levantam dúvidas sobre o inquérito da PF. Alegam que os agentes trabalham somente com suposições e que não há nenhuma prova contra ele.
O ministro Tarso Genro (Justiça), responsável pela PF, afirmou que "não há nenhuma prova física de entrega e de comprometimento presencial do ministro", contestando parte do relatório da polícia.
Disse ainda não haver uma lista de políticos com relação de propinas. Segundo ele, a relação encontrada pela PF nos escritórios da Gautama refere-se a pessoas que receberam brindes da empreiteira.
Durante seminário em Belo Horizonte, os dois últimos antecessores de Lula defenderam o afastamento de Rondeau. "O presidente da República tem que ser direto. Se tem gente que é ministro e está sendo questionado, tem que tomar medidas", afirmou Fernando Henrique Cardoso. "Caberia ao ministro sair, se defender fora do governo e, inocente, voltar", disse Itamar Franco.


Fonte: Agência Folha

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Lula mostra simpatia por energia nuclear


KENNEDY ALENCAR
Colunista Folha Online

O embate interno do governo sobre fornecimento de energia levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a pedir estudos a respeito de tecnologia nuclear. Em recente exposição, ele ouviu o seguinte de técnicos da Marinha e do Ministério da Ciência e Tecnologia: a produção de energia elétrica a partir de energia nuclear é muito mais segura hoje do que há 20 anos, além de ser a única fonte que poderia atender à crescente demanda mundial sem aumentar o efeito estufa.

Isso significa que Lula passará a construir várias usinas nucleares ainda em seu mandato? Dificilmente, apesar de Angra 3 integrar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O presidente pediu mais estudos para que essa fonte de energia seja adotada de forma crescente no longo prazo. Não é pouco. É uma decisão estratégica. Caberá à sociedade discutir sua correção e conveniência.

Os técnicos disseram a Lula que após o acidente de Chernobyl (Ucrânia), em abril de 1986, a segurança de usinas nucleares melhorou bastante. Na França, a maior parte da energia elétrica vem desse tipo de fonte.

O lixo atômico continua a ser um problema, mas em menor escala, dizem os técnicos. Há tecnologia para sua estocagem e redução de potencial de dano em caso de acidente.

A grande maioria dos ambientalistas vê com reserva esse tipo de fonte de energia, mas a realidade planetária pede uma discussão mais ponderada e livre dos preconceitos que o próprio presidente admitiu que tinha.




Agosto é o limite

O debate sobre o fornecimento de energia é o tema mais polêmico do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Lula tomou partido dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Silas Rondeau (Minas e Energia) na disputa com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a respeito de duas usinas hidrelétricas do rio Madeira (RO). Elas são Jirau e Santo Antônio. Juntas, produzirão 6.450 MW --a maior obra de energia do PAC.

O estudo que fez a cabeça de Lula se chama "Análise das Condições de Atendimento do Sistema Interligado Nacional 2007-2016". Foi apresentado por Silas Rondeau a Lula, Dilma e Marina.

Após a reunião, o presidente refletiu e cobrou de Marina as licenças ambientais para a construção das usinas do rio Madeira. A ministra está fazendo aquele discurso de quem sai de uma briga derrotada e ainda precisa ficar esbravejando, para não pegar mal.

Para que as usinas estejam prontas até 2012, o prazo-limite, na opinião do governo, para o início das obras deve ser agosto deste ano. Silas falou em maio para colocar mais pressão sobre Marina. O jogo já está combinado, apesar do discurso oficial.

Uma das principais preocupações do empresariado para investir é a garantia de fornecimento de energia. No estudo apresentado por Silas, estima-se uma média de 4,9% de crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) entre 2006 e 2016. Se os empresários avaliarem que faltará energia, poderão segurar investimentos, e o PIB poderá crescer menos.

Lula comprou o diagnóstico da dupla Dilma-Silas. Segundo os dois, sem as usinas do rio Madeira, o Brasil teria de recorrer a tecnologias de produção de energia elétrica mais caras e mais poluentes.




Nó ambiental

Atualmente, o Brasil joga na atmosfera por ano 40 milhões de toneladas de CO2. Segundo o estudo de Silas, com as usinas do Madeira, o Brasil passará a jogar 106 milhões de toneladas por ano em 2016, porque, mesmo assim, o país terá de recorrer a fontes poluentes para suprir a sua demanda (termelétricas, por exemplo, que serão construídas).

Sem essas duas usinas, diz o governo, o número subiria para 180 milhões de toneladas/ano. Se houver interrupção de construção de novas hidrelétricas ou de modernização dessas usinas, a emissão anual passaria para 283 milhões de toneladas de CO2. Obviamente, são cenários que vão de preocupantes a insustentáveis.




Fontes Alternativas

De acordo com estudos do governo, o Brasil tem, no médio prazo, um potencial de produção de 180 mi MWs a partir de hidrelétricas. O custo médio do MWh sai por R$ 125. A chamada biomassa tem um potencial de 9MWs (R$ 135 de custo médio por MWh). O potencial da eólica é de 140 mil MWs, mas o custo, hoje, é alto: cerca de R$ 200 por MWh. Em energia nuclear, os dados são 20 mil MWs a R$ 140. Em carvão mineral, 28 mil MWs e R$ 140.

Ou seja, o barato é também poluente. O não-poluente, como a fonte eólica, é caro.

É importante investir em tecnologia para baratear o custo de alternativas não-poluentes ou menos poluentes. Mas o resultado só deverá ser obtido no longo prazo. Até lá, o Brasil, que deseja crescer a taxas mais vigorosas, tem um problema de fornecimento a sanar.

Lula defende energia nuclear como opção à hidrelétrica

Por Marcelo Teixeira SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que a energia nuclear será a alternativa para o Brasil se obstáculos para a construção de novas hidrelétricas não puderem ser superados a tempo.

'Ou fazemos as hidrelétricas que temos que fazer, ou nós vamos entrar na era da energia nuclear', disse o presidente durante inauguração de complexo hidrelétrico da Companhia Vale do Rio Doce e parceiras em Minas Gerais.

'E quero dizer que não tenho nenhuma dúvida para fazer debates e enfrentamentos que tiver que fazer. Se necessário, vamos fazer energia nuclear, que esse país não pode ficar sem energia.'

Os comentários do presidente alimentam a polêmica existente no governo entre alas que defendem cautela nos projetos de desenvolvimento, devido a eventuais prejuízos ao meio ambiente, e setores que querem acelerar projetos em diversas áreas.

A reestruturação do Ibama, há alguns dias, foi criticada por ambientalistas, que enxergaram na ação uma mostra de que o governo federal está buscando reduzir o poder do órgão de interferir no desenvolvimento de vários projetos, incluindo os de novas hidrelétricas.

Lula afirmou que outras alternativas para a eventual insuficiência de empreendimentos hidrelétricos, como a energia gerada por termelétricas ou mesmo a energia eólica, são muito caras e o Brasil não dispõe de matéria-prima suficiente para as térmicas, que além do mais são poluentes.

'Nós não podemos ficar dependendo de gás que nós não temos. Precisamos pensar que tipo de energia teremos em nossa matriz', afirmou o presidente.

'Todo mundo sabe dos problemas que temos que enfrentar, o legal, o ambiental. Estamos com duas grandes usinas no rio Madeira, e estamos trabalhando de forma intensa para vencer os obstáculos que se apresentam', acrescentou.

A evolução dos procedimentos necessários para a construção do complexo do rio Madeira, considerado fundamental para o fornecimento futuro de energia no Brasil, tem sido afetada principalmente por questões ambientais.

Há disputa no governo entre áreas que defendem maior velocidade no projeto e outras que querem cautela devido ao impacto ambiental na região amazônica.

INCERTEZAS ELEVAM PREÇOS NO MERCADO LIVRE



Maurício Capela e Samantha Maia
Valor Econômico
3/5/2007

A instabilidade ainda não tomou conta do setor de energia no Brasil, mas a dúvida sim. Sem a licitação de um grande empreendimento hidrelétrico e com a mudança de postura da Bolívia em relação ao fornecimento do gás natural no último ano, é cada vez mais difícil garantir que o país não passará por um novo racionamento de energia até o fim da década. E à medida que o nível de incerteza sobe entre os agentes do setor, a cotação do megawatt hora (MWh) comercializado no mercado livre também sobe, apesar de não se acreditar em explosão de preços.

"Existe uma volatilidade grande no mercado e como a perspectiva entre oferta e demanda é apertada, logo o viés é de alta para os preços no mercado livre", afirma Paulo Cezar Tavares, vice-presidente de gestão de energia da CPFL Brasil, a comercializadora da holding CPFL Energia.

De fato, os números mostram isso. Uma companhia que tenha hipoteticamente adquirido energia por meio de um contrato de um ano, iniciado em janeiro de 2005, teria desembolsado entre R$ 50 e R$ 60 por megawatt/hora (MWh), de acordo com as comercializadoras ouvidas pelo Valor. E caso tenha renovado o acordo em janeiro de 2006, teria pago entre R$ 60 e R$ 75 o MWh.

Um ano depois, em janeiro passado, a mesma empresa gastaria entre R$ 80 e R$ 90, praticamente o dobro do valor gasto no mercado à vista nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

"Em dezembro de 2006, em alguns casos, o MWh chegou a ser negociado por R$ 115, mas em janeiro deste ano caiu para R$ 95", afirma o executivo da CPFL Brasil. "O aumento do preço da energia era previsto e não foi surpresa para ninguém. A tendência era que realmente ele subisse no mercado livre", afirma Ricardo Lisboa, sócio da comercializadora independente Delta.

O fato é que o preço do MWh subiu nos últimos anos porque, de fato, a energia andava barata. Com o fim do racionamento do insumo em 2001, havia uma oferta grande no mercado, o que propiciou preços atraentes e boa economia. Tanto é que o mercado livre, além de ter proporcionado uma economia de R$ 2,6 bilhões para quem operava nele em 2005, já representa perto de 26% do mercado total.

Quem firmou contratos de longo prazo, com duração até 2015, conseguiu economizar em 2003, por exemplo, 50% se comparado ao valor do MWh no mercado cativo e 40% em 2005, de acordo com dados da CPFL Brasil.

"Agora, quem fizer um contrato de longo prazo, vigorando a partir de 2008, muito provavelmente pagará entre R$ 110 e R$ 130 o MWh", diz Renato Volponi, diretor da Enertrade, comercializadora da Energias do Brasil, holding controlada pela portuguesa EDP. De acordo com o executivo, a atual sobra de energia que está ao redor de 5 mil megawatts médios fomenta a alta do valor no mercado livre.

"Para mim, está claro que não se venderá energia no mercado livre mais a R$ 50 o MWh, mas também engana-se quem acredita que poderá alcançar R$ 300 por cada MWh, porque por esse preço ninguém compra o insumo", afirma Marcelo Parodi, co-presidente da comercializadora independente Comerc.

Parodi fala com a autoridade de quem realizou 11 leilões de energia entre 2003 e 2005 no mercado livre. Tanto que negociou 850 megawatts médios neste período, o que equivale ao consumo de todas as residências do Estado de Minas Gerais por cerca de doze meses.

Para o empresário da Comerc, o gerador se baseia em três fatores na hora de formatar o preço. A saber: o valor praticado nos leilões do governo para as distribuidoras, o comportamento do preço no mercado à vista - que, por exemplo, estava a R$ 17 no início do ano e hoje está próximo dos R$ 50 - e a cotação das tarifas no setor cativo. Tanto que Parodi arrisca até um preço-teto para o mercado livre de energia no futuro, considerando a incerteza de oferta: de R$ 120 a R$ 125 o MWh.

No entanto, a subida de valores da energia no mercado livre também corre o risco de perder fôlego. Primeiro, porque basta ocorrer uma licitação de uma grande hidrelétrica para que o risco diminua e, depois, porque o mercado deverá acolher bem as últimas notícias sobre a ação da Petrobras na questão do gás natural. Além disso, a situação dos reservatórios no país andam confortáveis. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia armazenada neles está entre 83% e 99%.

Na última semana, por exemplo, a Petrobras anunciou que fechou contrato com a norueguesa Golar LNG para fretar as embarcações para os terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, e de Pecém, no Ceará, a um custo de US$ 90 milhões por ano. Com previsão para entrar em operação, pelo menos uma delas, no primeiro semestre de 2008, as operações terão capacidade de regaseificar 21 milhões de metros cúbicos diários.

Ao mesmo tempo, a Petrobras sacramentou acordo com primeiro fornecedor de GNL ao assinar "acordo de intenções" com a nigeriana Nigerian LNG para a compra de GNL no mercado livre a partir de abril de 2008. Também firmou um "acordo de confidencialidade" com a Oman LNG, com o mesmo objetivo, e informa que tem intenções de negociar outros contratos com empresas da Argélia em maio deste ano.

"Particularmente, não acredito em apagão. E é bem possível que o mercado possa se acalmar se houver boas notícias de GNL", diz o executivo da Enertrade.

Acordo define regras para termelétricas

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Petrobras deram um passo importante para dar mais segurança ao setor de energia no Brasil. Ontem, a agência e a estatal firmaram um termo de compromisso que estabelece um cronograma de oferta de combustíveis - especialmente gás natural - para as 24 usinas termelétricas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país entre 2007 e 2011.

Este termo de compromisso é o desfecho da queda de braço iniciada em meados do ano passado, quando o Operador Nacional do Sistema (ONS) tentou usar as termelétricas a plena capacidade e não conseguiu por falta de gás natural. Pelos cálculos iniciais, em outubro de 2006, o problema reduziu a geração de energia em 2.888 MW médios, o suficiente para abastecer 15,5 milhões de residências durante um ano. E em 19 de setembro de 2006, a Aneel estabeleceu que deveria ser informada sobre a real disponibilidade de combustível. A retirada das térmicas a gás da conta de oferta de energia - determinada posteriormente pela Aneel - teve implicações para os cálculos de risco de apagão e também para o preço futuro do insumo.

De acordo com a agência, a validade do documento firmado ontem está condicionada à publicação de portaria do Ministério de Minas e Energia. E a medida deverá trazer, inclusive, a redução do valor das garantias físicas dessas usinas. Ainda que a estatal também informe que o acordo será apreciado por uma reunião envolvendo a sua diretoria, conforme disse ao Valor a assessoria de imprensa da Petrobras, o termo já tem suas diretrizes definidas.

Uma delas, inclusive, diz respeito aos termos de multa se não houver cumprimento do termo. Em caso de a Petrobras não fornecer o combustível para as termelétricas, a Aneel poderá aplicar uma penalidade, que será calculada com base na diferença entre a potência despachada e a potência disponível, multiplicada pelo tempo em que o empreendimento ficou sem insumo e por um percentual crescente do valor máximo da energia vendida no mercado à vista.

Além disso, a Aneel explica que os 24 empreendimentos terão disponibilidade média de 2,2 mil megawatts médios (MW médios) no primeiro semestre de 2007, obedecendo portanto a uma programação do cronograma de oferta de combustíveis. Sendo assim, ficou estabelecido que esse montante deverá alcançar 6,74 mil MW médios no primeiro semestre de 2011.

No entanto, a agência terá total liberdade de "no período de vigência do termo de compromisso determinar ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a realização de testes, por meio da operação simultânea das termelétricas", diz o comunicado da Aneel enviado à impressa. E a agência informa que isso não se aplica somente a ela, também abrange a Petrobras que poderá solicitar esses testes desde que arque com os custos de geração. Das 24 usinas, 17 usarão gás natural e as outras sete demandarão outros combustíveis.

De acordo com o termo firmado ontem, serão feitos testes semestralmente, e o primeiro deve ocorrer em junho de 2007. E caso fique claro que existe indisponibilidade de geração de uma ou mais usinas por falta de combustível, a Petrobras poderá ser multada. E o descumprimento, por 60 dias consecutivos ou intercalados, do cronograma apresentado à Aneel, resultará no cancelamento do Termo de Compromisso e na retirada das usinas da programação do ONS. Segundo analistas, o termo fechado ontem entre a Aneel e a Petrobras é muito positivo. "O acordo é o compromisso firme que a Aneel pediu para que as termelétricas voltassem a ser consideradas no sistema nacional", diz Mário Veiga, da PRS Consultoria.

Para Veiga, esse formato trará segurança sobre a possibilidade de se poder contar com a operação das usinas termelétricas. "A pior coisa que pode haver para o setor é contar com termelétricas que não podem operar. Então o que vem sendo feito é negociar com a Petrobras para garantir tranqüilidade", diz. Mas a dúvida se as projeções são realistas ainda persiste, tanto que o consultor confia na seriedade da empresa e na existência de penalidades no acordo. "Imaginamos que agora a Petrobras vá detalhar como vai disponibilizar o gás", afirma Veiga.

Uma das possibilidades será investir em gás natural liquefeito (GNL) no Rio, uma opção que no entanto é mais cara, segundo o economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE). "O único problema dessa saída é o preço, mas isso ainda é especulação, a Petrobras deverá apresentar seus planos. Mesmo assim, o acordo é uma decisão importante", diz. Para Marco Tavares, da consultoria Gas Energy, as metas firmadas no acordo são desafiadoras para a estatal. "Cumprir esse cronograma de fornecimento de gás vai exigir um esforço grande da Petrobras, pois há uma série de investimentos a serem feitos."

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Só aborrecimentos para o Brasil na cúpula de energia

Editorial
Valor Econômico
19/4/2007

A única decisão tomada pela Primeira Cúpula de Energia da Comunidade Sul-Americana de Nações foi a de mudar o nome do bloco para União das Nações Sul-Americanas. Para a diplomacia brasileira e o presidente Luiz Inácio da Silva, a cúpula foi um exercício torturante de rejeitar todos os pratos indigestos que o anfitrião, o presidente venezuelano Hugo Chávez, havia preparado. O Brasil, em uma atitude pouco comum nestes encontros, falou claro e se opôs abertamente a Chávez, evitando fatos consumados, como a criação do Banco do Sul.

Com apoio de Equador, Bolívia e Venezuela e Argentina, Chávez preparou o roteiro para fazer da visita brasileira o marco inaugural da nova instituição financeira latino-americana. O governo brasileiro desautorizou a iniciativa bem antes de Lula desembarcar em Isla de Margarita para a cúpula. Já durante os encontros da reunião do Fundo Monetário Internacional, em Washington, Guido Mantega, avisara aos representantes dos demais países que não aceitaria a criação do banco sem uma discussão profunda e solução de consenso sobre seu caráter, suas finalidades e seu modo de operação.

O objetivo de Chávez, com apoio de Morales e Correa, era criar uma instituição para se contrapor ao FMI e ao Banco Mundial, algo que, por si só, é inútil. Venezuela, Argentina, Equador e Brasil nada devem ao Fundo. Esse espírito "anti-imperialista" permeia outra intenção, que é a de usar o banco para programas de ajuda aos países sócios sem metas de desempenho e a taxas camaradas. Para isso, o banco administraria parte das reservas internacionais, que estão crescendo em quase toda a região. O banco seria, na melhor das hipóteses, um fracasso financeiro e, na pior, um instrumento para o avanço do "socialismo" do século XXI.

A posição brasileira foi correta. O governo não acredita que seja necessária uma nova instituição e, em princípio, crê que com reforço dos organismos regionais, como a Corporacion Andina de Fomento, BNDES etc, pode-se fazer mais e melhor. O Brasil fez uma concessão aos demais sócios, que, porém, embarcaram na idéia e a conduziram para um caminho desvairado, que é preciso corrigir.

Da mesma forma, o Brasil usou de sua força de persuasão para impedir outro desvario, que é o de uma cúpula sobre energia condenar o etanol como fonte alternativa, ainda mais na presença do maior produtor mundial de álcool à base de cana. Excluir uma fonte renovável de energia como o etanol já é uma sandice, outra maior é fazê-lo em defesa do uso do petróleo, que abunda na Venezuela e é hoje sua única fonte de receita garantida. Não bastasse isso, diplomatas de países participantes afirmaram que o Brasil iria aderir à "Opep do gás", a tentativa de Chávez e Morales de criar mecanismos para fixar os preços do gás segundo conveniência dos produtores, em detrimento dos consumidores. O Brasil advertiu que dessa aventura também não participará.

O pesadelo ainda não tinha terminado quando o presidente boliviano, que quer comemorar a nacionalização do petróleo e do gás em grande estilo, no dia 1º de Maio, disse a Lula que seu país pretende pagar menos da metade pelas duas refinarias que pertencem à Petrobras (Folha de S. Paulo, 18 de abril). Talvez pensando em amaciar a dureza de sua posição, Morales afirmou que desta vez não recorreria ao uso de forças militares, ao contrário do que fez na nacionalização. Lula, desta vez, deixou um longo passado de conciliação com Morales para avisar a ele que considerava inaceitáveis as condições e que o Brasil cancelaria todos seus projetos futuros no país vizinho. Não se sabe se a advertência foi suficiente para demover Morales.

Em plena cúpula de energia, a atitude de Morales foi simbólica - indica a pouca disposição de vários participantes a encarar com seriedade a integração. Chávez agora saiu-se não mais com um, mas com três gasodutos. Ao caro e duvidoso projeto do Gasoduto do Sul, que cortaria a Amazônia e iria até o sul do Brasil, ele apontou como necessários o Gasoduto Transoceânico, ligando Atlântico ao Pacífico e o Transandino, que iria até a América Central. Longe de indicar soluções sensatas, a primeira cúpula de energia serviu para mostrar o quanto o abastecimento na região encontra-se ameaçado por uma letal mistura de voluntarismo, politicagem e leviandades.

terça-feira, 17 de abril de 2007

O Brasil e o aquecimento global

O Brasil e o aquecimento global

Artigo - José Goldemberg
O Estado de S. Paulo
16/4/2007

O problema das mudanças do clima resultantes do aquecimento do planeta deixou de ser uma preocupação de acadêmicos e passou para o plano político. Importantes decisões deverão ser tomadas este ano para enfrentar o problema, e o Brasil não pode ficar ausente delas.A evidência científica de que a Terra está mais quente é insofismável; a temperatura média já subiu quase um grau centígrado no último século e, se nada for feito, subirá mais dois graus até o fim deste século. As conseqüências serão devastadoras. As mudanças de clima já se estão tornando evidentes no mundo todo e até tufões começaram a ocorrer no Sul do País. Segundo informações de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o nível médio do Oceano Atlântico já subiu 40 centímetros nos últimos cem anos e subirá mais ainda neste século, ameaçando as regiões costeiras do País. O mais grave problema que nosso país vai enfrentar, contudo, é a “savanização” da Amazônia, que vai tornar-se mais seca e com isso se reduzirão ainda mais as chuvas no restante do País, sobretudo no Nordeste, que se tornará mais seco do que já é hoje.Todos os demais países do mundo estão começando a sofrer efeitos semelhantes, porque o aquecimento da Terra não respeita fronteiras. Emissões de gases que provocam o aquecimento da Terra, na China ou nos EUA (principalmente por causa da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás), contribuem da mesma forma que as emissões resultantes do desmatamento da Amazônia, que continuam elevadas, colocando o Brasil no quinto lugar entre os maiores emissores mundiais. Nesta questão é inútil procurar culpados, porque, em maior ou menor grau, somos todos os que estamos contribuindo para o problema.

A Convenção do Clima assinada no Rio de Janeiro em 1992 e o Protocolo de Kyoto, em 1997, levaram os países industrializados a se comprometer a reduzir suas emissões, mas os outros grandes emissores, como a China, a Índia, a Indonésia e até o Brasil, ficaram livres desses compromissos, com a justificativa de que reduzir suas emissões prejudicaria seu desenvolvimento. A linguagem da Convenção do Clima, que criou “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” entre os países industrializados e os países em desenvolvimento, sem dizer claramente quais são elas, tem, na prática, sido usada para encobrir a inação. Ela poderia até ser considerada razoável há 15 anos, mas o crescimento econômico da China tornou este país um emissor quase tão importante quanto os EUA. Poder-se-ia também argumentar que os grandes países em desenvolvimento (inclusive o Brasil) se estão tornando emissores importantes apenas há algumas décadas, enquanto os países industrializados já são grandes emissores desde o início do século 20. A posição inflexível dos países em desenvolvimento de não aceitarem nenhuma limitação nas suas emissões teve o efeito perverso de levar os EUA (maior emissor mundial) a se recusarem a aderir ao Protocolo de Kyoto enquanto China, Índia e os outros grandes emissores não aderissem também.Não é possível continuar a usar esta desculpa. É preciso agora enfrentar o problema com maturidade e fazer um novo acordo entre os grandes emissores para enfrentar o problema, após quase 15 anos de quase total imobilismo.A União Européia, sob a liderança de Angela Merkel, acaba de dar um passo importante nesse sentido, decidindo que até o ano 2020 o bloco europeu reduzirá suas emissões em 20%, o que será feito principalmente pelo aumento do uso de energia renovável (ventos, energia solar, biomassa e outros), que deverá atingir 20% da matriz energética européia, onde ela hoje representa apenas 6%. Lamentavelmente, a União Européia só responde por cerca de 15% das emissões, o que não resolve o problema.O Brasil liderou um movimento nessa direção na Conferência de Johannesburgo, na África do Sul, em 2002, propondo que a contribuição das energias renováveis, no mundo todo, aumentasse para 10% no ano 2010, o que não foi aprovado devido à resistência dos países produtores de petróleo, EUA e até alguns governos pouco esclarecidos da África.A situação, hoje, mudou porque há uma conscientização mais clara de que as mudanças climáticas terão enorme custo se nada for feito, como demonstrou claramente o Relatório Stern, preparado para o governo britânico.É preciso, pois, que o governo brasileiro retome a posição de vanguarda e liderança que teve em 2002 na África do Sul e se una à China, Índia e outros países do Grupo dos 77 para adotar medidas concretas juntamente com os países industrializados para reduzir as emissões mundiais. O Brasil poderia fazê-lo facilmente reduzindo o desmatamento da Amazônia, sem prejudicar o desenvolvimento econômico do País.

Há uma oportunidade excepcional para isso, que é a reunião do G-8 (as maiores economias dos países industrializados), em julho, em Berlim, à qual comparecerão como convidados os cinco grandes dos países em desenvolvimento (China, Índia, Brasil, África do Sul e México). Lá poderá ser feito um acordo para que todos os países, incluindo os EUA, assumam responsabilidades proporcionais às suas contribuições para o aquecimento global, abandonando a retórica, que se mostrou vazia, de “responsabilidades diferenciadas”.

A regra da proporcionalidade é usada para definir a contribuição financeira dos diversos países às instituições internacionais e poderia ser usada numa nova Convenção do Clima. Há formas de fazer isso que levam em conta as emissões feitas no passado. O essencial, neste momento, é tomar uma decisão política e orientar o Itamaraty para as negociações necessárias, como foi feito no período que antecedeu a Conferência do Clima de 1992, que só foi um sucesso devido à liderança que o Brasil exerceu na ocasião.


Fonte: Clipping Ministério do Planejamento

terça-feira, 27 de março de 2007

Fundador do Greenpeace defende energia nuclear

Fundador do Greenpeace defende energia nuclear
JANAINA LAGE
Folha de S. Paulo
27/3/2007

Para Patrick Moore, ambientalistas ainda vivem a mentalidade da Guerra Fria

Energia atômica, combinada a fontes renováveis, é a única forma de garantir suprimento mundial, diz ambientalista

Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, é hoje um dos principais defensores da energia nuclear. Em 1991, fundou uma consultoria, a Greenspirit, que trabalha em parceria com governos e empresas em projetos de equilíbrio entre necessidades econômicas e preservação ambiental.
Em entrevista à Folha, Moore afirma que a resistência dos ambientalistas à energia nuclear é motivada por uma mentalidade típica da Guerra Fria. Para ele, o Brasil tem condições de se tornar líder no setor de álcool, mas deve procurar desenvolver em escala comercial a produção a partir do bagaço da cana para não se tornar um imenso canavial. Ele destaca que a produção a partir de alimentos como cana, milho e soja pode afetar negativamente a indústria alimentícia.

FOLHA - O que o fez mudar de idéia em relação à energia nuclear?
PATRICK MOORE - Cometemos um erro nos anos 70. Estávamos focados em armas e em guerras nucleares, preocupados com a possibilidade de a civilização e o ambiente serem destruídos pelo holocausto nuclear. Vejo que cometemos um erro ao incluir a energia nuclear como parte disso. Falhamos em distinguir o uso pacífico da tecnologia do destrutivo.
Além disso, a preocupação com as mudanças climáticas criou uma situação muito diferente no mundo. Agora queremos reduzir o consumo de combustíveis fósseis, não só pelas mudanças climáticas como pela poluição do ar.
Outro argumento é que uma parcela significativa dos combustíveis fósseis é proveniente de áreas de instabilidade política e até potencialmente hostis.
A única forma de reduzir o consumo de combustíveis fósseis de maneira significativa é fazer isso com um programa agressivo de energias renováveis combinado à energia nuclear.

FOLHA - As energias renováveis não podem cumprir esse papel?
MOORE - Não acredito que matematicamente seja possível mostrar que a energia solar e a energia eólica possam fazer isso sozinhas. Devemos usar energia hidrelétrica, a mais importante fonte de energia renovável, biomassa ou biocombustíveis, como vocês têm feito com a cana-de-açúcar. Mesmo isso não pode fazer tudo. Precisamos de uma grande quantidade de energia que seja confiável, segura e que não polua o ar, e isso é a energia nuclear.

FOLHA - E é seguro ter países como o Irã enriquecendo urânio?
MOORE - Isso é um problema. Seria benéfico para o Irã ter energia nuclear, a não ser que o país queira usar essa tecnologia para fins maléficos. O que temos que ter é a Parceria Global da Energia Nuclear, com maior controle sobre urânio e plutônio. Até a Rússia está começando a criticar o Irã. Se todos os Estados que usam energia nuclear, como EUA, China, Rússia e França, entrarem nesse grupo, eles vão controlar o urânio e o plutônio de forma que não caiam em mãos erradas.
Você não precisa de um reator nuclear para fazer uma arma nuclear. As armas nucleares que estão sendo construídas no mundo são feitas com plutônio de reatores nucleares militares, que é outra categoria. Mesmo se fecharmos todos os mais de 400 reatores que estão em funcionamento, isso não vai fazer os generais desistirem de seus reatores nucleares militares. É preciso distinguir o uso pacífico da energia nuclear do uso militar de armas nucleares.

FOLHA - No Brasil, o governo está bastante próximo de retomar o projeto nuclear, mas há resistência entre ambientalistas e o Ministério do Meio Ambiente. Por que os ambientalistas em geral ainda resistem ao uso dessa fonte de energia?
MOORE - É uma infelicidade. Acredito que eles ainda estão presos a uma mentalidade da Guerra Fria. O movimento pacifista é focado em guerras e armas e incluíram a energia nuclear como se fosse a mesma coisa. O princípio que devemos adotar é que não podemos banir os usos benéficos de uma tecnologia só porque ela pode ser usada para o mal.
Mais de 1 milhão de pessoas já foram mortas na África com um simples facão. Essa é também a ferramenta mais importante para fazendeiros. Eles limpam o terreno e cortam a madeira, mas ela também pode ser usada para cortar braços de humanos e matá-los. Temos que usar a energia nuclear para fins pacíficos e dar ao mundo um exemplo. O Brasil pode fazer isso, mostrar ao mundo que pode usar tecnologia nuclear, sem armas nucleares.
O problema com a posição dos ambientalistas é que, de um lado, eles estão dizendo que as mudanças climáticas serão uma espécie de catástrofe que vai destruir o ambiente e a civilização. Por outro lado, eles se recusam a aceitar que a energia nuclear é a única grande fonte de energia que pode substituir os combustíveis fósseis.

FOLHA - Mas a indústria nuclear já teve o acidente de Chernobyl...
MOORE - Chernobyl representou um erro estúpido. Foi uma combinação do estilo ruim do reator construído pelos soviéticos com um erro dos operadores. O saldo relacionado ao acidente, no entanto, é de 56 mortes. Do ponto de vista industrial, não foi um acidente tão grande assim. Meu Deus, 1,2 milhão de pessoas morrem em acidentes de carro todo ano!

FOLHA - A indústria já encontrou uma solução para os resíduos?
MOORE - O combustível que é tirado do reator não é totalmente desperdiçado. Quase 90% poderia ser reciclado. O que devemos fazer é armazenar o combustível usado de forma segura e cuidadosa até o momento em que possa ser reciclado. Isso tem sido feito na França, na Rússia e no Japão. E deve ocorrer logo nos EUA. Eles fizeram a opção de não reciclar o combustível nuclear na gestão Jimmy Carter, que estava preocupado com a possibilidade de o plutônio cair em mãos erradas. O que posso dizer é que há mais de 400 reatores em uso e ninguém nunca foi ferido pelo combustível guardado em recipientes porque é armazenado de forma segura.

FOLHA - O Brasil tem condições de tornar o álcool uma commodity?
MOORE - Sim. Estive no Brasil por dez dias, vi as vastas plantações de cana. O Brasil é provavelmente o líder mundial em biomassa e biocombustíveis. Isso é muito importante, mas também é preciso considerar quanto do ecossistema natural queremos transformar em um imenso canavial. Temos que ter um equilíbrio para não transformar o país inteiro numa fábrica de fazer açúcar e álcool.

FOLHA - É possível convencer outros países a usar álcool nos carros?
MOORE - Sim. Os EUA também estão fazendo álcool, mas a partir do milho, e biodiesel a partir da soja. O problema é que você está retirando comida da indústria alimentícia. A visão futura é fazer o álcool a partir do bagaço da cana. Se tivermos sucesso nisso, podemos evitar a competição com as commodities alimentícias e usar o açúcar, a soja, e o milho para alimentar pessoas. A quantidade necessária desses produtos para substituir combustíveis fósseis teria um impacto grande no suprimento alimentar.

FOLHA - Qual é a sua avaliação sobre o desmatamento na Amazônia?
MOORE - É muito hipócrita que pessoas da Ásia e da América do Norte apontem o dedo para o Brasil sobre desmatamento, porque o fato é que a Amazônia tem mais de sua floresta original do que os EUA e a Europa. As pessoas gostam de pensar que elas não fazem desmatamento onde vivem, mas toda a agricultura nos EUA e em cidades da Europa são sinais de desmatamento. Antes eram locais de florestas. No Brasil, você tem que ter comida, assim como no restante do mundo.
Estive na Amazônia e vi quão rapidamente a natureza se recompõe, se você a deixa em paz. O clima tropical significa que as plantas podem crescer o ano todo. Voei de um lado a outro da Amazônia e fiquei surpreso de ver quão vasta é a área de floresta que continua lá. Acho que o Brasil está fazendo um bom trabalho em definir áreas grandes para proteção ambiental.

Fonte: Clipping Ministério do Planejamento

quinta-feira, 15 de março de 2007

Energia mais poluente e mais cara não reduz risco de apagão

Energia mais poluente e mais cara não reduz risco de apagão
14/3/2007
Cláudia Schüffner e Chico Santos
Valor Econômico

A energia no Brasil está ficando mais cara e mais suja, sem que essa perda de qualidade garanta um risco menor no suprimento deste insumo. Para garantir o crescimento do PIB da ordem de 4% a 5% ao ano, o Brasil precisa aumentar sua capacidade instalada de geração de energia, que fechou 2006 com 96,3 mil megawatts (MW) de potência. Para os próximos quatro anos (até 2010), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) traça dois cenários de aumento da capacidade instalada. No desenho otimista, ela cresce 12% (ou 3% ao ano). No conservador, apenas 5,6% (menos de 1,5% ao ano). Entre 2002 e 2006, quando o PIB evoluiu apenas 2,6% ao ano, a oferta aumentou 20% - cerca de 5% ao ano.

De um total de 38 usinas já licitadas, apenas oito estão em construção, segundo relatório da Aneel. O cenário conservador conta, apenas, com a energia que será fornecida por estas oito hidrelétricas, cujo início de funcionamento vai de 2007 até 2010. No cenário otimista, também entram na conta de aumento da capacidade instalada mais 13 usinas cuja construção não começou por atraso no processo de licenciamento ambiental ou outra razão - estas são as usinas classificadas sobre o código amarelo. Nos dois cenários também estão incluídos o aumento da oferta de energia por geração térmica, eólica e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

As chuvas que fizeram todas as grandes barragens do país encherem a ponto de ser necessárias medidas para abrir as comportas dos reservatórios nos últimos dois meses garantem o suprimento até meados de 2008. E continuam sendo necessárias para garantir o suprimento do país, a exemplo do que ocorreu na década de 90.

Técnicos de dentro do próprio governo admitem que se os projetos de gasodutos e de importação de gás natural liquefeito (GNL) não amadurecerem a tempo, são grandes as incertezas para o período 2009/2010 caso as chuvas venham abaixo da média. No cálculo da oferta de energia, a potência instalada das usinas não significa que elas conseguem gerar 100% de sua capacidade.

Para efeitos de projeções, se calcula historicamente que a energia assegurada em megawatts médios (MWmed) de uma hidrelétrica corresponde a 60% de sua potência. Isso porque ela depende da quantidade de água em seu reservatório, que por sua vez é maior ou menor em determinados meses do ano em função do rio onde foi construída a queda d´água. Segundo informa a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a quantidade de energia assegurada no sistema elétrico atualmente é da ordem de 54 mil MW médios (MWmed), pouco mais da metade da potência instalada no país. Nas térmicas, a energia assegurada é maior, correspondendo historicamente a cerca de 90% da potência.

O quadro de oferta futura de energia, aliado às projeções de aumento da demanda (em torno de 5% ao ano até 2010), embasam os temores de vários consultores com relação à robustez da oferta de energia. Apesar das manifestações otimistas por parte do governo, já é clara a preocupação com o tema, e ela fica explícita na maior entrada de usinas termelétricas à óleo ou a carvão na matriz energética - uma oferta mais cara e poluente.

No acumulado dos três primeiros leilões já feitos de acordo com as regras do novo modelo do setor elétrico, 57% da energia contratada foi de origem térmica, embora nos dois últimos a oferta de energia hidrelétrica tenha sido bem superior à do primeiro. Nos dois leilões marcados para maio, mais de 70% dos 25,5 mil megawatts ofertados são de origem térmica. Além disso, nos três primeiros leilões as estatais foram responsáveis pela oferta de 57% da energia contratada, refletindo a insegurança do setor privado. Os números mostram ainda que o preço da energia térmica é sempre maior no futuro.

Na hipótese prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - o Brasil vai crescer 4,5% este ano e 5% ao ano de 2008 a 2010 - , o país vai precisar de aproximadamente 3.000 megawatts (MW) novos de potência ao ano para cobrir o aumento da demanda. Como atualmente não há nenhum grande aproveitamento hidrelétrico em vias de ser colocado em produção, a solução mais imediata para cobrir a demanda de 2009 e do começo de 2010 é o retorno ao Sistema Interligado Nacional (SIN) dos 2.698 MW gerados por termelétricas a gás que foram retirados por falta de combustível.

Em suas previsões, a Aneel conta com a entrada de 3.654 MW de 113 termelétricas (que usam gás, óleo e biomassa, entre outros combustíveis) entre 2006 e 2011. Mas segundo acompanhamento da própria agência, apenas 28 desses empreendimentos já estão em construção.

O raciocínio dos técnicos do sistema elétrico é que, com o aumento da oferta de energia térmica, se ganha tempo para a entrada gradual de hidrelétricas maiores já previstas, como a gigantesca Estreito, no Tocantins (1.087 MW), hoje cumprindo exigências ambientais para entrar em obra e que está listada pela Aneel entre os projetos vermelhos - aqueles "com graves restrições".

O analista Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), avalia que "o cronograma das térmicas não encaixa". O engenheiro Marco Tavares, sócio da Gas Energy, calcula que as chuvas que encheram os reservatórios deram uma "folga" de apenas cinco meses ao governo, que precisa usar esse período para planejar "como resolver o que fazer para não faltar energia em 2009 e 2010". Segundo ele, o balanço de energia que está espelhada nos balanços do ONS e Aneel mostra a necessidade de energia nova para equacionar esse quadro, entre elas a volta das térmicas que saíram com base em gás interruptível ou óleo, ou mais leilões de ajuste.

Segundo balanço do CBIE, com dados do ONS e considerando só as usinas sem impedimento para a construção, haverá um déficit de 28 MW em 2010 e de 2.712 MW de energia em 2011. Sem as usinas novas já leiloadas, os déficits sobem, respectivamente, para 1.475 e 4.259 MW. Os analistas do banco Credit Suisse vão além. Eles estimam que o risco de déficit de energia em 2010 é de 25%, quando o Brasil convive historicamente com um risco de apagão de apenas 5%.

O ONS, uma organização do mercado fortemente submetida ao controle do Estado, estima que o déficit em 2009 será de apenas 4,8% . Mas seu relatório de fevereiro de 2007 mostra que de 38 hidrelétricas (8.861 megawatts) previstas para entrar em operação até 2012, nada menos do que 6.066 MW (ou 30 usinas) não estão iniciadas, e mais da metade dessa potência enfrenta graves problemas ambientais para sua execução..

O presidente do ONS, Hermes Chipp, assegura que o saldo positivo do período úmido (chuvas) de 2006/2007 será suficiente para assegurar o abastecimento de energia até 2009. Mas ressalta que "a lição que ficou do racionamento de energia de 2001 foi que ao longo dos anos anteriores a ele não houve a agregação de hidrelétricas no país com regularidade e nem um parque térmico de grande porte".

O quadro hoje não é muito diferente. Não há agregação de usinas hídricas e o parque térmico está inoperante por falta de combustível. Por isso Chipp é enfático ao afirmar que o Brasil precisa de mais térmicas para melhorar seu equilíbrio energético. Ele ressalta que, apesar de caras, elas são essenciais par dar segurança ao sistema.

O diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, diz que há uma "persistente falta de oferta de energia porque o cadastro de novos empreendimentos estava escasso". Mas, segundo ele, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) foi criada para solucionar o problema, o que já está sendo feito.

Outra dificuldade que existe, diz ele, é que os estudos de engenharia que existiam tinham uma dificuldade ambiental. Em alguns casos elas foram superadas, em outros não. "Em terceiro lugar, é preciso compreender que existem empreendimentos já licenciados e o próprio Ministério de Meio Ambiente tem dito que não é a única trava."

"Um exemplo é a existência de 100 Pequenas Centrais Hidrelétricas com licença ambiental que não saíam do papel porque pelas regras existentes tinham que vender energia no longo prazo competindo com as grandes hidrelétricas existentes", enumera Kelman, lembrando que isso foi resolvido com a decisão de marcar um leilão específico para pequenas centrais.

Segundo o diretor-geral da Aneel, a expectativa agora é de grande participação de PCH"s no leilão de fontes alternativas. E para aqueles que não participarem, fica o aviso do xerife do setor. "Vamos começar o processo de caçar e licitar as autorizações das PCH"s que ficarem de fora do leilão. Se mesmo tendo oportunidade de fazer contratos de longo prazo de venda de energia essas usinas não saírem do papel vamos retomar para introduzir um processo competitivo", avisa.

A questão do licenciamento ambiental, somada aos problemas relacionados com a preservação de terras indígenas, é tida por especialistas do setor como um obstáculo gigantesco para viabilizar obras que o próprio governo considera indispensáveis, como as usinas de Jirau e Santo Antonio (rio Madeira) e Belo Monte (rio Xingu).

O problema é tão grave que o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, entende que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria coordenar as negociações que permitam chegar a um acordo que atenda a todas as partes. "Não se pode negar a eletricidade à população e nem destruir o meio-ambiente por causa do progresso", argumenta.

Pinguelli concorda que as chuvas salvaram 2007 e 2008, mas avalia que "não há indícios de que o risco (tolerável) de 5% será mantido nos anos seguintes". Tavares, da Gás Energy, diz que não é possível acreditar em solução mágica. Acha que falta realismo tarifário que permita atrair novos investidores.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Toma cachaça Tio Sam!

BUSH PLANEJA PARCERIA COM BRASIL PARA OPEP DO ETANOL

A grande iniciativa que o presidente George W. Bush quer lançar no Brasil está sendo chamada de mercado hemisférico de etanol. A idéia, gestada dentro do Departamento de Estado, é expandir a produção de etanol em vários países da América Latina, principalmente no Caribe e na América Central, para garantir um fornecimento estável do biocombustível. Trata-se de uma Opep do etanol. Para isso, Brasil e Estados Unidos devem fechar parcerias, com participação da iniciativa privada, para instalar usinas de etanol em países da América Central.

O homem-chave por trás dessa estratégia é Greg Manuel, conselheiro de Condoleezza Rice para assuntos internacionais de energia. Desde que entrou no Departamento de Estado, em outubro, ele esteve seis vezes no Brasil. Jovem, Manuel aposta em incubadoras e parcerias público-privadas para criar o mercado hemisférico de etanol.

"Já que não saiu a Alca, vamos de álcool", diz Brian Dean, diretor-executivo da Comissão Interamericana de Etanol (CIE). Brian foi diretor da Florida FTAA, grupo que fazia o lobby para que os EUA fossem a sede da Alca. Agora, com a Alca natimorta, Dean cuida da CIE, cujos titulares são o ex-governador da Flórida Jeb Bush, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

A comissão, que se reúne regularmente com o Departamento de Estado, está fazendo um levantamento sobre produção de etanol e cana-de-açúcar nos diversos países da América Latina. Segundo Dean, países como Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e República Dominicana são bastante promissores para abrigar usinas e expandir a produção de etanol.

Manuel não detalha muito o plano de parceria de etanol que será apresentado na viagem de Bush. Mas, a interlocutores, afirmou que o foco é a expansão regional da produção, com muita participação do setor privado. Ele mencionou também a possibilidade de parcerias público-privadas para investimento em infra-estrutura de etanol no Brasil, como alcooldutos e investimentos cruzados nos dois países.

"É uma enorme oportunidade. O hemisfério ocidental gasta 7,2% de seu PIB importando petróleo e alguns países são muito vulneráveis, como a República Dominicana, que gasta quase 20% de tudo o que produz importando petróleo", diz Manuel. "Isso não é sustentável, todos esses países precisam investir em sua produção doméstica." Segundo ele, do ponto de vista geopolítico, "é importantíssimo" diversificar as fontes de fornecimento de energia. "É importante ter como fonte de fornecimento todos os nossos amigos no exterior, e esses nossos amigos também sofrem, eles nem sempre têm a petrodiplomacia a seu favor."

Juntos, Brasil e EUA produzem 72% do etanol mundial. A grande reivindicação brasileira sempre foi a abertura do mercado americano ao biocombustível brasileiro. Hoje, o etanol do Brasil paga imposto de importação de US$ 0,54 por galão. Mas uma redução na tarifa não será oferecida por Bush em março. "As tarifas não estão sobre a mesa de negociações", disse Manuel. "Muitos países com os quais estamos falando sobre esse mercado global vêem o acesso ao mercado americano como uma vantagem adicional, não uma condição essencial; mesmo sem acesso ao mercado americano, há muitas oportunidades."

A discussão de retirada de tarifas não é factível politicamente neste momento, por causa do forte lobby dos produtores de milho e o enfraquecimento dos republicanos no Congresso. Mas, a longo prazo, os americanos querem expandir as fontes de fornecimento de etanol, porque sabem que a produção doméstica de milho não vai dar conta da demanda e o etanol celulósico vai levar pelo menos uma década para ser viável economicamente. Bush estabeleceu a meta de reduzir o consumo de gasolina em 20% até 2017, o que significa um aumento de 132,4 bilhões de litros de combustíveis alternativos. Hoje em dia, a produção americana de etanol (de milho) é de 20,4 bilhões de litros.

Dentro da parceria energética, Bush e Condoleezza também vão discutir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cooperação em pesquisa e desenvolvimento, para aumentar a produtividade das lavouras e criar grãos geneticamente modificados mais adequados para produção de etanol. E ainda devem debater a uniformização de normas para a criação do mercado de commodities energéticas.

Fonte: Agencia Estado

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Debate em SP sobre alternativa às energias utilizadas


SP sedia evento sobre energia eólica, no dia 28 de fevereiro

Depois da saída do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima), onde a utilização desordenada de recursos naturais e a crescente poluição da terra pelo homem que levam ao aquecimento global foram os principais assuntos, o homem começa a rever seus conceitos e começa a pensar em novas maneiras de manter o funcionamento do mundo que conhecemos sem chegarmos a total destruição do planeta.

Já em utilização em terras brasileiras, a energia eólica, que utiliza os ventos como forma de fonte energética alternativa será o assunto de seminário promovido pelo IIR-Institute for International Research, no dia 28 de fevereiro, no Park Plaza Hotel, na cidade de São Paulo.

Serão temas das palestras a Análise do cenário mundial de energia eólica e as projeções em longo prazo; Principais parques eólicos implementados no Brasil; Vantagens e benefícios da energia eólica na matriz energética; Contabilização e liquidação da energia eólica no Brasil; Estratégias para a comercialização da energia eólica e atratividade do MDL para a geração eólica no Brasil.

O evento, contará com a participação de Everaldo Feitosa, vice-presidente da WWEA - Associação Mundial de Energia Eólica, e diretor presidente do CBEE - Centro Brasileiro de Energia Eólica; Hamilton Moss, do Cepel e do Cresesb -Centro de Referência para Energia Solar e Eólica; Jorge Antônio Villar Ale, da PUC-RS e do Nutema - Núcleo Tecnológico de Energia e Meio Ambiente; Sérgio Marques, da Bioenergy; Antônio Carlos Fraga Machado, da CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica; João Carlos Mello, da Andrade Consultoria e Engenharia; e Pablo Fernandez da Ecosecurities.

Mais informações no site http://www.iir.com.br.

Fonte: Jornal da Ciência

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Receita para acabar com um rio:
primeiro retire água do rio a uma vazão de 127.000 litros por segundo, depois eleve a água a uma altura de 160 metros e a partir daí faça com que ela percorra 2000 quilômetros a céu aberto. (projeto para a transposição do Rio São Francisco). Quando o rio estiver capengando com menos água, instale uma central nuclear com 3 usinas e utilize a água do rio para resfriar os reatores. Não se preocupe se ainda tiver muita água no rio pois serão necessários de 300 a 1000 litros por segundo para resfriar um reator nuclear.

Mário Araújo Neto

Nova central nuclear pode ficar às margens do Rio São Francisco

Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo
11/2/2007

Água usada para resfriar os reatores volta mais quente para o local de onde foi retirada; por isso o local é adequado

As margens do Rio São Francisco são o lugar ideal para a instalação de uma das centrais nucleares previstas no novo programa nuclear brasileiro, segundo avaliação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Com grande fluxo de água, o rio permitiria o resfriamento dos reatores das usinas sem maiores danos ao ecossistema, explica o presidente da instituição, Odair Gonçalves. O projeto prevê a instalação de uma central com até três usinas na região, carente no abastecimento de energia.A água usada para resfriar os reatores volta mais quente para o local de onde foi retirada. Por isso, diz Gonçalves, é necessária uma fonte com fluxo suficiente para diluir a água aquecida. Em Angra, com a central localizada na costa, o resfriamento é feito com água do mar.

O programa prevê a instalação de uma terceira central, também com até três usinas, em local não definido. O número de plantas em cada uma ainda não está fechado, mas a idéia é ampliar em pelo menos 4 mil megawatts o parque nuclear brasileiro, hoje com 2 mil MW de Angra 1 e 2 mais a possibilidade de 1,3 mil MW de Angra 3.“O Brasil pode ser totalmente auto-suficiente em energia nuclear, já que tem grandes reservas de urânio e domina a tecnologia para a produção do combustível”, diz o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Edson Kuramoto, repetindo um dos principais argumentos dos defensores da tecnologia. De fato, o País tem a sexta maior reserva mundial de urânio, com apenas 30% do subsolo pesquisado.Segundo Gonçalves, as reservas atuais são suficientes para abastecer todas as usinas do programa proposto por 60 anos. “Há uma fila de parceiros internacionais querendo nos ajudar a desenvolver o setor, em troca de urânio.”

POLÊMICA

O debate em torno do plano, porém, deve provocar polêmica. Gonçalves sabe disso e evitou falar sobre os locais propícios ao depósito dos rejeitos de alta atividade, que podem levar milhares de anos para deixarem de ser radioativos. O executivo disse que o ideal é que sejam rochas de granito. “Definido o local, é preciso iniciar uma etapa de discussões com a sociedade sobre compensações.”

Defensores da tecnologia afirmam que o volume de rejeitos gerados é muito pequeno, o que facilita a armazenagem. “Há ainda um processo em desenvolvimento, chamado de incineração, que reduz para até 100 anos o tempo de radiação”, acrescenta Kuramoto.

No caso das usinas de Angra 1 e 2, os rejeitos estão estocados dentro dos reatores, em piscinas construídas especialmente para esse fim, que ainda têm capacidade para absorver os rejeitos de uma década de operação. “Os EUA têm 104 usinas nucleares e apenas um depósito de rejeitos”, ressalta Gonçalves.

A tecnologia gera dois outros tipos de rejeitos, de baixa e média atividade. Hoje, ambos são estocados nos terrenos da central de Angra, por falta de legislação específica. A CNEN opera um grande depósito de rejeito nuclear proveniente de atividades hospitalares e industriais na região metropolitana de Goiânia, onde estão os rejeitos de Césio 137 que foram encontrados por sucateiros em um hospital da cidade e contaminaram mais de uma centena de pessoas em 1987.

Pela proposta da CNEN, a construção das novas usinas seria feita pela Eletronuclear, uma vez que o setor é considerado, pela legislação brasileira, monopólio estatal. O executivo diz que a empresa está com boa saúde financeira e já poderia assumir as obras de Angra 3. Em visita ao Brasil esta semana, a ministra de Comércio Exterior da França, Christine Lagarde, afirmou que a companhia francesa Areva pode participar do projeto, que demandará investimento de R$ 7 bilhões.

EXPLORAÇÃO

Segundo o programa, a Indústrias Nucleares Brasileiras continua responsável pela mineração de urânio e produção dos elementos combustíveis. A empresa voltaria a explorar o subsolo brasileiro, em busca de novas reservas do mineral. “Há 20 anos não perfuramos um poço com esse objetivo”, diz o presidente da CNEN. Estima-se que o Brasil tenha ainda 800 mil toneladas de urânio a descobrir, o suficiente para quadruplicar as reservas conhecidas hoje.

Para que o plano seja posto em prática, diz Gonçalves, o governo terá de investir em mão-de-obra especializada. Segundo ele, a idade média dos funcionários da CNEN, por exemplo, está em torno dos 50 anos e há poucos jovens entrando nesse mercado.

PLANO NUCLEAR PREVÊ 6 NOVAS USINAS

Nicola Pamplona
O Estado de S. Paulo
11/2/2007

A proposta de retomada dos investimentos em energia nuclear no Brasil prevê, além da conclusão de Angra 3, uma nova usina a cada três anos, até que a tecnologia responda por 5% do parque gerador. Está prevista a construção de 4 a 6 usinas, a partir da próxima década, até 2030, em duas centrais de porte semelhante à de Angra dos Reis.

Esse é o teor do programa de energia nuclear ao qual o Estado teve acesso, já encaminhado para avaliação do governo, segundo o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Gonçalves. A primeira central seria instalada no Nordeste e a segunda, em local a ser definido.

A viabilidade do programa, porém, depende da decisão sobre a retomada das obras de Angra 3, remanescente do programa nuclear da década de 70, com capacidade de 1,3 mil megawatts (MW). O tema seria discutido em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no dia 31, que foi adiada. Técnicos do setor acreditam que, após os alertas sobre o aquecimento global, a tecnologia ganha espaço ante alternativas como petróleo e carvão.

Responsável pela formulação de políticas e fiscalização do setor nuclear brasileiro, a CNEN elaborou um projeto detalhado sobre o futuro da tecnologia no País. Nele, diz Gonçalves, há soluções para problemas polêmicos, como o destino dos rejeitos radioativos - principal crítica de grupos ambientalistas - e fontes de recursos para o desenvolvimento das tecnologias necessárias.

Segundo o executivo, o Brasil deve se tornar exportador de urânio para financiar os US$ 500 milhões necessários em equipamentos para produzir combustível nuclear para todas as centrais. Atualmente, apenas 6% das necessidades das usinas de Angra 1 e 2 são totalmente produzidas no Brasil.

“O tema é polêmico”, admite o presidente da CNEN. “Mas precisa ser aprovado ainda neste governo, já que leva tempo para construir usinas.” Gonçalves trabalha com o prazo do Plano Nacional de Energia 2030, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que lista a energia nuclear como alternativa para a geração de 4 mil MW novos no período.

No setor, é dada como certa a aprovação de Angra 3 na próxima reunião do CNPE, o que abriria espaço para as discussões sobre as novas centrais. “Está na hora de o Brasil debater o tema”, concorda o físico Luiz Pinguelli Rosa, do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Atualmente, a ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, é a única voz contrária à conclusão do projeto no conselho, formado por sete ministros, um representante dos Estados e dois da sociedade civil. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria mudado de opinião após a divulgação de novos cálculos sobre o preço da energia de Angra 3, a R$ 138 por MWh, próximo dos padrões dos últimos leilões de energia.

Biocombustíveis - A Chance do Brasil

O Estado de S. Paulo
11/2/2007

Em seu plano estratégico a Petrobrás faz uma aposta ousada: até 2011 ela vai suplantar os EUA e passará a ser líder mundial de vendas de biocombustíveis, com a produção nacional de etanol e biodiesel. Para alcançar essa meta a estatal já começou a agir: 1) Acaba de montar a empresa japonesa Nipaku, em sociedade com estatal Nippon Alcohol Hanbai, que vai comercializar o etanol brasileiro no Japão e em outros países da Ásia; 2) decidiu construir um alcoolduto de 600 km, entre a Região Centro-Oeste e São Paulo, para transportar o etanol até o Porto de Santos e daí exportar para o mundo; 3) além de duas plantas-piloto em produção, busca parcerias privadas para montar mais três fábricas de biodiesel e ampliar a produção em mais 150 milhões de litros; 4) neste momento intensifica as pesquisas técnicas para utilizar mamona e pinhão manso na produção de biodiesel.

“Aqui temos matéria-prima, cana-de-açúcar e oleaginosas, mercado combustível, logística de distribuição em todo o País, máquinas e tecnologia própria e uma indústria automotiva tecnicamente preparada para usar gasolina e álcool simultaneamente”, lembra o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. “E tem mais: 30 anos de Proálcool, 300 produtores e longa experiência em exportação colocam o Brasil na dianteira do etanol. Daí a atingirmos a liderança mundial não é nenhum sonho”, avalia Gabrielli.

Falar em liderança mundial e desbancar os EUA quando o presidente Bush lança o desafio de, em dez anos, substituir 20% da gasolina consumida nesse país por combustíveis renováveis pode até não ser sonho, mas se o Brasil fizer as coisas certas, o governo regular o mercado com regras claras, garantir que a expansão da lavoura de cana e de oleaginosas não se dê à custa de devastação de florestas ou da escassez e do encarecimento de alimentos. E é fundamental, indispensável, abolir o antiamericanismo ideológico, que, além de atrasado, como definiu o ex-embaixador Roberto Abdenur, é bobo, burro e contra os interesses do Brasil. Sozinhos, os EUA não têm condições de multiplicar por sete sua produção de etanol para suprir a substituição dos 20% de gasolina. Por isso o presidente Bush vem pessoalmente negociar com Lula parceria na produção de etanol, mirando a garantia de suprimento futuro dos EUA. A preponderância brasileira é reconhecida entre os norte-americanos, tanto que o o jornal The Wall Street Journal chamou recentemente o Brasil de “Arábia Saudita do álcool”.

Apesar das advertências do Protocolo de Kyoto, em 1997, a demanda por energia limpa no mundo pouco cresceu. Hoje, além de EUA e Brasil, só Alemanha, Suécia, Índia e Colômbia misturam álcool à gasolina e poucos outros países têm programas de produção de biocombustíveis em implementação.

Mas essa pasmaceira global pode mudar agora, com a divulgação do relatório da ONU sobre aquecimento global, que estarreceu o mundo. Diante do preocupante quadro descrito pelos cientistas, muitos países passaram a se preocupar com a saúde do planeta e de seus habitantes. A França, por exemplo, passou a vincular acordos comerciais a cláusulas ambientais. Essa demanda por energia limpa e o preço do petróleo acima de US$ 50/barril, sem dúvida, criam um novo mercado para fontes renováveis de energia e abrem uma enorme janela de oportunidades para o Brasil, que nesta corrida leva a vantagem de 30 anos de estrada do Proálcool e um programa de biodiesel em plena evolução.

Na última quarta-feira, o ministro Celso Amorim combinou com o subsecretário americano para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, uma reunião, até o final deste mês - portanto, antes da visita de Bush -, entre Brasil, EUA, Índia, China, União Européia e África do Sul para discutir a padronização global para o etanol, etapa obrigatória para este produto virar commodity e ser negociado em Bolsas no mundo inteiro, competindo com o petróleo.

“Vamos liderar, sem nenhuma dúvida. No mundo inteiro há uma enorme curiosidade pelo nosso álcool porque, além de pioneiro, o Brasil é o único país no mundo com um programa massivo, que ocupa 40% do mercado de combustíveis.” Gabrielli exagera, é verdade. Mas o Brasil não pode perder esta chance.

*Suely Caldas é jornalista. E-mail: sucaldas@terra.com.br

Fonte: Clipping Ministério do Planejamento